Hoje senti a tua falta, vou escrever para ti na esperança que me voltes a compreender, que vejas para além dos olhares cúmplices e dos sorrisos que o tempo ainda não apagou.
Perdeste-te na solidão das pessoas que envelhecem, queria-te encontrar. Queria-te de volta.
Às vezes gostava de ser pequenina outra vez, sentar-me ao teu colo e ouvir tudo o que tinhas para me contar.
Recordo-me vagamente de ti antes de te perderes naquilo que és. Falavas muito!
Contavas-me histórias daquilo que fizeras e ambicionavas, confundias a realidade com o imaginário, sonhavas muito.
Planeaste na tua cabeça como seria o futuro, quando fossemos mais velhos.
Agora aqui estou, no meu futuro, a ser aquilo que tu querias que fosse.
Tu, continuas preso no passado, perdido entre as memórias de quando eras feliz, de quando éramos felizes.
Lembras-te mim, não esqueces as promessas que me fizeste, apenas sabes que não as podes cumprir.
Ensinaste-me tanta coisa!
Agora é a minha vez de te ensinar a ti, de te ajudar a lembrar.
Faz um esforço para não te esqueceres!
Tenho saudades tuas, não de ti, mas daquilo que eras. De tudo aquilo que fizemos e imaginamos.
Sempre depositaste tantas expectativas em mim que tenho medo de não ser aquilo que idealizaste.
Cresci. Mas continuo a ser a tua menina, eu sei que me vês. Que vibras com a minha felicidade, mas fazes-me falta. Faltas-me tu, as tuas palavras, as tuas opiniões.
Eu vejo-te, sei que tens o coração magoado. Custa-te todas as vezes que falas e não te compreendem, quando queres fazer alguma coisa e simplesmente não consegues.
Eu sei avô, eu vejo-te, eu consigo compreender-te!
Nicole