terça-feira, 11 de junho de 2013

Desistir .

Desistir . 
Toda a gente em determinada altura da vida, desiste. Há quem desista vezes sem conta . 
Desistir é o fim derradeiro de qualquer coisa . É a ultima resposta a todas as perguntas . Há medida que o tempo passa , descobre se que desistir é feio . Como se de um grande palavrão se tratasse . Há um tempo para lutar outro para desistir, isso é certo . 
Quando desistimos de alguém, o nosso coração sofre sozinho, cumpre uma ordem de despejo e deita tudo fora . Mas aos bocadinhos , para ser racionalmente menos doloroso . Vão os cheiros , as melodias , a voz ... Até que sem darmos por isso , já foi tudo . 
Só resta a saudade dos tempos bons. Como numa letra de música , esquecem se alguns versos , ficam outros, até que a única coisa que nos ecoa na cabeça é o trauteio e uma ideia breve daquilo que era cantar aquela canção. Somos bons a esquecer , mas até  chegarmos  a esse ponto , vai um longo e triste caminho, onde ninguém quer ser o primeiro a chegar . 
Quando desistimos acabamos com um pequeno grupo de magoas, transbordadas também de alegrias. Embevecidas , tornam-se em saudade. 
' quem desiste , na verdade nunca quis
' será ? 



segunda-feira, 3 de junho de 2013

Deve ser isto o amor .

Rita Ferro Rodrigues, brinda-nos com as palavras do amor . Crónicas comoventes sobre a família , a rotina e claro, o amor de uma mãe , mulher e filha . De leitura fácil e arrebatadora este livro construído de saudades, transmite historias com que muita gente se identifica . O amor . Deve ser isto . 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A vida quis assim.

Às vezes a vida é esguia e foge-nos no tempo que perdemos. É fácil perder tempo, acontece todos os dias com as coisas mais disparatadas.. É inerente ao ser humano, é um acto involuntário que não nos cabe a nós avaliar. É triste, pior é imaginar tudo o que não se faz no tempo que nos foi roubado,com as pessoas que não tivemos oportunidade de ver. A vida fica mais pesada, absurdamente desinteressante. 

sexta-feira, 12 de abril de 2013






Toda a gente, pelo menos todos aqueles que eu conheço, chegam a um ponto da sua vida em que trocam as ilusões pelas coisas banais da vida, pela preocupação, pelo medo. Vivem endireitados pela rotina. Embalam os sonhos que sonharam a vida toda, que desde miúdos desejaram alcançar. Guardam-nos porque sabem que eles, ao contrário de nós, não perdem a validade. Não se gastam e nunca são demasiado espaçosos na nossa vida. Prometem revira-los, pegar neles e criar as mais belas histórias. Mas mais tarde. Um dia, talvez.


Para mim, não dá. Vivo dos meus sonhos, de mim num futuro próximo. Próximo, espero eu que seja. Acho que toda a gente é assim, vive em cima dos sonhos, dependem deles para continuar. Mas depois, há demasiado de tudo. Tudo o que nos preocupa e enlouquece, tudo o que parecendo que não, nos afasta daquilo que sonhamos. Correr atrás, correr demais, correr por eles. Pelos nossos sonhos, por eles apenas…

quinta-feira, 11 de abril de 2013


Um dia vou encontra-me. Encontrar-te-ei a ti. Sentado num banco de jardim, esfumaçando a ponta breve de um cigarro brando que te aquece a alma. Intuitivo e gingão, barba de três dias e saudades minhas. Assim te imagino, à minha espera, como se os dias não passassem e a ausência se tornasse cada vez mais acentuada na tua memória. Não me percas, agarra-te aquilo que te resta de mim. Estou a chegar, pensas.
Fugiremos juntos para longe. Longe de tudo o que agora é nosso. O que nos perturba e pouco a pouco nos transforma. Misturamos-nos com tudo aquilo que não nos pertence, que excluímos a princípio mas que agora devorará a nossa existência e perturbará a nossa maneira de pensar.
Vou encontra-te, pegar em ti e levar-te para longe. Longe daqui. A vida apressa-se, mas há coisas que continuam na mesma. Como esta minha vontade de ti. Da tua presença sonâmbula entre as horas mais escuras. O teu ser balançado a rodopiar à minha volta, envolvendo-me na teia doce da vida. Estou cheia de ti em cada movimento, cada cambalear fala da tua história, daquela que me transmitiste. Mesmo sem saberes. Inconscientemente sou a continuação da tua história, do teu nome, de ti .
Procuro-te lá fora, na confusão dos restantes. Procuro-te entre o mais comum dos Homens. Cheios de si próprios, vidas isoladas, telhados assombrados, mágoas doloridas. Vou encontrar-te, penso, para acalmar o meu coração sedento de ti. Eu sei, falam de ti… Mas não te conhecem, não como eu. Haverá outra forma de olhar para ti sem ser com o coração? Vagueias perdido na minha memória, flutuas com vontades abstractas. Desejas que te encontre, ainda não é o tempo certo. Um dia será, não agora. Riu para ti, para que venhas ao meu encontro, de mãos dadas com as tuas ilusões. Trá-las contigo, falamos sobre elas enquanto bebemos café...

'It's been a while, I'm not who I was before'



Decidi voltar a escrever, alias, não recordo o porque desta pausa tortuosa que soou para mim, como tempo de mais. Talvez fosse preciso coragem, força.


Ultimamente, o tempo está de costas voltas para mim. Não me suporta. É recíproco. As vidas que deixei para trás também não me olham com bons olhos, empurram-me na calçada quando pretendo atingir algum fim, troçam de mim quando nada me parece suficiente. Tropeço em mim, naquilo que fui. Fecho os olhos, respiro fundo, num suspiro demorado, até que os meus pulmões se encham de ar, continuo. Como sempre fiz. Todos os caminhos parecem os certos, menos aquele que eu escolhi para mim. A passividade com que vivo, em nada a mim se assemelha. As palavras correm esvoaçantes à minha volta, incontroláveis, desordenadas. Resto eu apenas, num silêncio instável que torna a amplidão da minha vida num cubículo minúsculo. Resto eu, sem pensamentos concretos, objectivos fixos. 
Torna-se impressionante a imensidão de tudo aquilo em que não me tornei.


love #1


sábado, 4 de fevereiro de 2012

Prioridades

Perdi-me. Perdi-me no silêncio das lágrimas, nas mágoas alheias, nas minhas.
Deixei-me levar, caminhei. Continuei a sorrir.
Não levantei voo, fiquei colada ao chão como se em mim tivesse o peso de todas as coisas. O ruído deturpou o meu raciocino, a minha lógica da indiferença, da continuidade.
A brisa severa imobiliza o meu corpo, fatigado e frágil. Enxergo apenas o absurdo da multidão. O absurdo daquilo onde inconsequentemente me perdi.
Caminhei, como se para além de mim nada existisse. Sorri. Acenei.
O meu corpo enfraquecia a cada passo. O odor a terra molhada infiltrou-se em mim. Voltei à realidade.
Rostos desconhecidos interferiam na maneira de pensar.
Descontrolei-me na velocidade dos meus passos, como se numa correria tudo ficasse para trás, estranhamente quis passar despercebida.
Notam que estou irrequieta. Não perguntem, não quero dar respostas. Não as tenho.
Fecho os olhos num longo suspiro na esperança de que os ânimos se acalmem.
A tranquilidade ocupa o espaço fechado onde perdemos a noção das horas, sinto-me a sufocar.
Finjo observa-los, acenando afirmativamente com a cabeça e mudando de expressão. Não os oiço. Gesticulam, num tremendo esforço. Esperam reacções. Tudo o que é dito no movimento dos lábios e na oscilação das pálpebras soa como a brisa leve da Primavera, uma manhã de Domingo. Queria estar atenta.
Sabem que estou perdida em pensamentos. Num curto espaço de tempo, resolvo mentalmente meia dúzia de problemas inconstantes. Sinto-me tranquila.
Numa tentativa quase vã, despertam-me. Afirmo que concordo com tudo. Surpreende-me, acreditam nas minhas palavras trémulas.
O medo do confronto com a realidade gela cada vez mais o meu corpo. Sinto-me a desfalecer.
Ninguém percebe, aparentemente estou bem. Quando insistem demasiado mostro os dentes. Ficam satisfeitos com a expressividade do meu rosto. Assim, consigo passar despercebida por mais uns minutos, para mim são horas. Horas longas, difíceis de passar.
Questiono-me. Tanto cansaço, falta de vontade, sonolência, palpitações. Falta de horas de sono, deduzo.
Distraio-me com o ponteiro dos segundos do relógio que tenho no pulso direito. Uso-o sempre no pulso esquerdo. Manias, medo do azar que sorrateiramente aparece nas coisas com menos importância. Azar. Só pode ser isso.
Relógio no pulso esquerdo. Nada. Sinto-me a derivar, mas agora sem pensamentos concretos.
Pressinto a vibração do telemóvel que se encontra na parte mais funda da mala que carrego. Reviro a mala enfurecida, com pressa, com sede de notícias.
O tempo pára. Volto a ser eu.
Apenas uma mensagem sem importância.
Observo toda a correria à minha volta. Sinto-me envolvida na turbulência das viagens, nas rotinas dos outros.
Alguém teve a decência e o descaramento de interromper a minha meditação, a minha maneira forçada de perceber o mundo exterior.
‘’Sentes-te bem? ‘‘ Sinto-me óptima, como respondo sempre. ‘’Conheço-te bem’’, diz-me.
As minhas pernas ameaçam ceder. Vou perder o chão, penso.
‘’Está tudo bem, é só para que saibas que estou aqui, quero que me vejas. ‘’
Numa tentativa falhada de distrai-la, afirmei que já a tinha visto. Num tom irónico ripostei. Vejo muito bem.
As minhas palavras não saíram com a força desejada e cedi.
‘’Dá-me a mão’’, pede. Quero estar sozinha. ‘’Seremos então, duas sozinhas.’’
Por momentos achei que me gozava e afastei-me. Preciso mesmo de me isolar. Estupidamente disse-o de forma agressiva. Agora vou mesmo ficar sozinha.
Enquanto ajeitava os botões do casaco, dando-lhe tempo para pensar numa maneira de me convencer a ser sozinha acompanhada, reflecti.
De forma planeada, convicta e despachada, como se tratasse de tirar um penso rápido colado a uma ferida que ainda não sarou, disse-me:
‘’Tu tens força, não há-de ser nada’’
 No momento em que ouvi as suas palavras quase sussurradas, dei conta de que não se passava nada. Pelo menos comigo. Nenhuma razão lógica para me sentir assim, estupidamente esquisita.
Continuou: ‘’Foca-te em ti e esquece um bocadinho os outros, os seus problemas, lida apenas com os teus’’ Não compreendi, estava prestes a perder o controlo e a virar costas.
‘’ Se tiveres coragem para ter força, vais ter garra para ajudar aqueles de quem gostas e precisas. Se eles receberem essa força vinda de ti, terão força para te ajudar quando fores tu a precisar’’
Ouvi. Interiorizei e ainda não esqueci.
O peso pendurado nos meus ombros voou para longe, desapareceu por entre os rostos que se iluminavam de novo.
Respirava sem dificuldade.
Era agora altura de delimitar prioridades e ajudar aqueles que precisam. Pedindo-lhes apenas : Dá-me a tua mão e vê que eu estou aqui.

Nicole Dinis Godinho 04-02-12