Um dia vou encontra-me. Encontrar-te-ei a ti. Sentado num banco de
jardim, esfumaçando a ponta breve de um cigarro brando que te aquece a alma. Intuitivo
e gingão, barba de três dias e saudades minhas. Assim te imagino, à minha espera,
como se os dias não passassem e a ausência se tornasse cada vez mais acentuada
na tua memória. Não me percas, agarra-te aquilo que te resta de mim. Estou a
chegar, pensas.
Fugiremos juntos para longe. Longe de tudo o que agora é nosso. O
que nos perturba e pouco a pouco nos transforma. Misturamos-nos com tudo aquilo
que não nos pertence, que excluímos a princípio mas que agora devorará a nossa
existência e perturbará a nossa maneira de pensar.
Vou encontra-te, pegar em ti e levar-te para longe. Longe daqui. A
vida apressa-se, mas há coisas que continuam na mesma. Como esta minha vontade
de ti. Da tua presença sonâmbula entre as horas mais escuras. O teu ser
balançado a rodopiar à minha volta, envolvendo-me na teia doce da vida. Estou
cheia de ti em cada movimento, cada cambalear fala da tua história, daquela que
me transmitiste. Mesmo sem saberes. Inconscientemente sou a continuação da tua
história, do teu nome, de ti .
Procuro-te lá fora, na
confusão dos restantes. Procuro-te entre o mais comum dos Homens. Cheios de si
próprios, vidas isoladas, telhados assombrados, mágoas doloridas. Vou
encontrar-te, penso, para acalmar o meu coração sedento de ti. Eu sei, falam de
ti… Mas não te conhecem, não como eu. Haverá outra forma de olhar para ti sem
ser com o coração? Vagueias perdido na minha memória, flutuas com vontades
abstractas. Desejas que te encontre, ainda não é o tempo certo. Um dia será,
não agora. Riu para ti, para que venhas ao meu encontro, de mãos dadas com as
tuas ilusões. Trá-las contigo, falamos sobre elas enquanto bebemos café...
Sem comentários:
Enviar um comentário